Obstáculos e Superações no Caminho da Aprendizagem do Canto Devocional

Ao longo do percurso espiritual, seja qual for a prática ou o método que escolhemos para aprofundar a nossa ligação interior, é inevitável que enfrentemos desafios ou obstáculos. Estas dificuldades podem levar-nos a questionar a nossa jornada ou até a ponderar desistir. No entanto, é importante lembrar que essas “pedras no caminho” não são necessariamente problemas, mas partes fundamentais do processo que nos ajudam a crescer e a compreender as nossas escolhas e incertezas.

Na minha jornada pelo canto devocional, deparei-me com várias questões emocionais e desafios cognitivos que me fizeram refletir. Decidi partilhar alguns desses obstáculos que, quem sabe, podem ser também os teus, e revelar como os consegui ultrapassar. Assim, espero desmistificar a ideia de que este é sempre um percurso tranquilo e trazer luz sobre como podemos encarar e superar essas dificuldades.

A Disciplina

Manter uma prática regular, como o canto devocional, pode ser um desafio. Às vezes, a mente recusa-se a colaborar: porque está cansada, porque prefere a novidade de outra atividade ou simplesmente porque há resistência interna. O que me ajudou foi encarar a disciplina com discernimento e flexibilidade. Por um lado, comprometo-me diariamente com a prática, mas, por outro, aceito que nem sempre será perfeita. O autojulgamento é um dos maiores inimigos nesse processo. Cultivar uma atitude de compaixão para connosco mesmos ajuda-nos a aliviar a pressão de “ter que” fazer algo de forma ideal. Alguns dias serão mais produtivos, outros menos. Quando libertamos a nossa felicidade dessa rigidez, a mente relaxa, permitindo-nos viver a prática com mais serenidade.

A Confiança

Iniciar o canto devocional pode trazer pensamentos limitadores como: “Não tenho voz para isto”, “O sânscrito é demasiado difícil”, ou “Já é tarde para aprender algo novo”. Estes pensamentos, muitas vezes, refletem uma falta de confiança, seja em nós mesmos ou no próprio caminho que escolhemos. Para superar isto, foi essencial investigar a origem dessas crenças. Compreendi que o problema raramente estava na prática em si, mas em questões mais profundas que precisavam de ser trabalhadas. Procurar ajuda de um terapeuta pode ser transformador. Caso isso não seja viável, escrever sobre as nossas emoções ou meditar sobre os pensamentos que surgem pode ajudar a esclarecer e dissipar esses bloqueios.

As Emoções

O canto devocional, especialmente em sânscrito, ativa áreas profundas do nosso ser. É natural que emoções inesperadas venham à superfície: tristeza, alegria, paz ou até raiva. Estas emoções podem estar ligadas a memórias ou aspetos de nós mesmos que estavam adormecidos. É importante acolher essas sensações sem resistência. Durante o meu percurso, percebi que deixar as emoções fluírem, sem as julgar, era essencial. Além disso, buscar apoio em quem orienta o canto devocional pode ajudar-nos a compreender e lidar melhor com estas experiências.

As Metas e a Devoção

É fácil cair na armadilha de colocar expectativas rígidas sobre o progresso no caminho espiritual. Mas é fundamental lembrar que o objetivo não é “chegar” a algum lugar, mas sim estar presente no processo. A entrega ao dharma, ou seja, ao que precisa de ser feito, ajuda-nos a alinhar com o nosso propósito. Cultivar a devoção, neste caso através do canto, é um ato de amor e conexão que nos fortalece, independentemente dos desafios.

 

Este texto é uma reflexão baseada na minha experiência, mas cada pessoa terá o seu próprio caminho e os seus próprios desafios. Espero que, ao partilhar estas ideias, possas encontrar inspiração para enfrentar as tuas dificuldades e superar os obstáculos que surgirem no teu percurso. Que a devoção te guie e que possamos, juntos, crescer neste maravilhoso caminho do canto devocional.

ॐ गं गणपतये नमः |
Inês Ritto