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IndiaÍndia do Coração
Viagem ao Sul da India

Índia do Coração

Embarcámos no início de novembro rumo a uma viagem que, embora soubéssemos que seria desafiante, nos levou a superar inúmeros desafios, tanto internos como externos.

Chegámos a Mumbai após uma escala no aeroporto de Istambul. Cansados e com poucas horas de sono, passámos a noite num hotel próximo do aeroporto. Durante a tarde, aproveitámos para visitar alguns locais interessantes. Parte do grupo explorou as redondezas, e mais tarde reunimo-nos para visitar o Portal da Índia, um arco-monumento concluído em 1924, situado na zona ribeirinha de Mumbai. Construído em homenagem ao desembarque do Rei Jorge V para a sua coroação como Imperador da Índia em dezembro de 1911, o monumento localiza-se na Strand Road, perto da Fonte de Wellington.

Gateway of India

Tentámos ainda visitar, ao final do dia, o templo Shri Siddhivinayak Ganapati Mandir, dedicado a Ganesha, mas, após algum tempo a caminhar descalços, percebemos que seria necessário esperar cerca de uma hora devido à enorme afluência de visitantes.

Era a penúltima noite do Diwali, o Festival das Luzes da Índia, que celebra a vitória da luz sobre a escuridão e do conhecimento sobre a ignorância. O Diwali está associado a vários episódios religiosos, divindades e personalidades, como o retorno de Rama ao seu reino em Ayodhya com Sita e Lakshmana após derrotar o rei demónio Ravana. Outras tradições ligam o festival a Vishnu, Krishna, Durga, Shiva, Kali, Hanuman e outras figuras divinas.

De regresso ao hotel, assistimos aos fogos de artifício pela janela do quarto. O espetáculo não terminou à meia-noite, prolongando-se pela noite dentro.

No dia seguinte, iríamos voar para Chennai, mas, devido ao atraso na chegada ao aeroporto e aos procedimentos demorados, não conseguimos embarcar. Seguimos, então, de camioneta rumo a Tiruvannamalai, fazendo uma paragem para pernoitar em Kolhapur.

Apesar do cansaço acumulado, chegar a Arunachala foi como regressar a casa. Essa foi a sensação que me invadiu. A montanha ou colina, considerada a morada de Shiva, parece proteger a cidade e os seus habitantes. Contemplar a beleza de Arunachala e visitar as grutas onde Ramana Maharshi meditou durante anos foi uma experiência transformadora, impossível de traduzir em palavras.

Visitámos também o Templo de Arunachalesvara, dedicado a Shiva, situado na base da colina de Arunachala. Este é um dos templos associados aos cinco elementos naturais, os Pancha Bhuta Sthalas, representando o elemento fogo, ou Agni.

Templo de Arunachalesvara

À noite, apesar do pouco tempo disponível, realizámos o Giripradakshina, uma caminhada sagrada de 14 quilómetros em torno da colina de Arunachala, desta vez de tuk-tuk. Impressionou-nos a quantidade de peregrinos ao longo do percurso e os inúmeros templos que encontrámos no caminho.

No dia seguinte, partimos para Manjakuddi, a terra natal do Swami Dayananda, não sem antes visitar o templo de Nataraja, em Chidambaram, dedicado à forma de Shiva como senhor da dança. As esculturas nas paredes deste templo ilustram os 108 karanas descritos no Natya Shastra de Bharata Muni, que formam a base do Bharatanatyam, a dança clássica indiana.

Chegar a Manjakuddi foi como chegar ao coração de Swami Dayananda. A vila respira amor, e o Swami Ramesvarananda, residente local, é um exemplo vivo desse espírito. Tivemos aulas de Vedanta com o Professor Paulo e eu tive a oportunidade de partilhar o canto devocional através do canto do 15º capítulo da Bhagavadgita, num espaço encantador onde é feita diariamente puja ao Swami Dayananda.

Manjakuddi

Foi uma bênção visitar a casa onde Swami Dayananda nasceu e perceber que tudo ali, desde a educação das crianças, aos locais de estudo e agricultura sustentável, é feito com imenso carinho.

Dois dias depois, seguimos para Rameswaram para visitar o templo Ramanathaswamy, um dos doze templos jyotirlinga da Índia. Este templo destaca-se pelo maior corredor do mundo, com mais de 4.000 pilares, e pelos seus 22 poços sagrados (theerthas), cada um com um significado especial.

No caminho para Rameswaram, ainda visitámos o templo Brihadisvara.

Após uma noite repousante, partimos para o Arsha Vidya Gurukulam em Anaikatti, perto de Coimbatore, onde ficámos por quatro dias. Lá, estudámos e continuámos o estudo do 15º capítulo da Bhagavadgita com o Professor Paulo e concluímos o canto deste capítulo também. Foi maravilhoso conhecer o Swami Sadatmananda Saraswati, que nos acolheu com grande humildade e carinho.

Tivemos também a oportunidade de visitar diariamente o templo de Dakshinamurti e explorar a galeria dedicada ao Swami Dayananda, a biblioteca e o templo de Kalyana Subramanya (Murugan) e ainda o Veda Patashala, onde crianças estudam, durante um período de 10 anos, os Vedas, entre outras atividades.

templo de Kalyana Subramanya

Visitámos ainda o Swami Dayananda Jayavarthanavelu Ayurvedalaya que oferece tratamentos ayurvedicos é absolutamente lindo. Fundado pelo Swami Dayananda em 2014, este centro ayurvedico é rodeado por montanhas e florestas, e é um local que vale a pena visitar e ficar uma temporada maior para um tratamento mais profundo.

Os últimos dias foram passados em Kerala, em Kochi, onde fizemos um passeio de barco inesquecível. Alguns de nós participaram numa sessão de astrologia védica na casa de Ananda Jyoti, onde também assistimos a um ritual de oferenda a Bhadra Kali.

Regressámos da Índia de coração cheio. Este país, com os seus paradoxos e contrastes, desafia-nos profundamente e, talvez por isso, nos toque tanto.

Agradeço profundamente aos organizadores, Professor Paulo e Sónia, pela orientação constante ao longo desta jornada, e a todos que partilharam desta experiência.

Muito fica por dizer e por partilhar, mas espero que estas palavras consigam transmitir um pouco do que é ou do que pode ser uma vivência na Índia.

É preciso abrir mão do que conhecemos e abrirmo-nos a um outro lugar que nos vai tirar muitas vezes o chão, o conforto, o silêncio, a tranquilidade.

 

Um especial agradecimento aos companheiros de viagem pelas suas imagens que ajudaram a ilustrar este texto.

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